quinta-feira, 28 de julho de 2016

Prova dos 9

Solto o cabelo e ao meu nariz apurado vem o teu cheiro que nele foi raptado.
Olhei-te. Nunca te vi. 
Autista na percepção estudada de leitura de rostos tenho deixado o cérebro adormecido. 
Maquiavélica na busca do prazer deixo os olhos fechados quando o intrincado de sensações me arrebataria a alma.
Pequenos traços de depravação a serem evidenciados por reacções paralelas a conversas perfeitamente banais.
Palavras soltas em conversas saltitantes não retidas numa memória tinta enquanto dois adultos voltam a viver a adolescência. 
Sensações deliciosas sobrevivendo à noite como sendo a única lembrança de longos toques determinados e consistentes num espaço dividido. 
Os meus lábios colados à fina pele do teu pescoço. Um beijo, dois, três. 
A voluptuosidade de um encontro de corpos em desejo... um pouco mais.... um pouco mais... gritam duas bocas sôfregas e eloquentes a  assediarem-me mutuamente. 
Uma noite esquizofrênica a terminar num resultado líquido parcamente calculado. 
Requesita-se a prova dos 9. 

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Devias...

Devias estar aqui comigo... 
Passeávamos à beira mar...
Deixávamos as ondas beijarem os nossos pés descalços.
Dançávamos na areia molhada...
Enrolávamo-nos na serenidade da noite debaixo de uma lua imensa... Na areia que esfria mas se mantém confortável.
Deixavámos que a noite descesse sobre nós e via-te fechar os olhos e deixares-te ir nos meus braços perdido nos meus beijos.
Devias estar aqui a construir memórias que se gravam a ferro e fogo. A conheceres o sentimento do que é viveres um romance que ultrapassa as fronteiras do tempo, as fronteiras do espaço. 
Devias estar aqui... Entregue aos caprichos do corpo e da voluptuosidade. A compreender onde os maiores poetas da história encontraram inspiração. 
Devias estar aqui... E na ausência de espaço e tempo teres o vislumbre de uma paixão tão intensa que trucida a alma de vontade e de desejo. 
Devias estar aqui... E ouvir as ondas que suavemente rebentam e me provocam um arrepio na espinha que devias ser tu a provocar. 
Devias estar aqui... 
Na prisão de um desejo imensurável e violento que faria as tuas mãos não largarem as minhas e os nossos corpos colarem na sofreguidão de uma noite que não quereríamos ver terminada.
Devias...mas não existes.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Unspoken

No doce encanto de um dia que se move serenamente para a noite sossego na paz de uma existência que se encontra com o espelho pela primeira vez. 
Na quietude das palavras que ainda não foram proferidas auguro um abrir do pano e de palco inéditos. 
Sossego. 
Na calma e perseverança de um ser que agora vive constantemente preso num sonho acordado. 
Os sentidos apresentam-se ao serviço impecavelmente eficientes. 
As rugas voltaram a morar no canto dos lábios. 
A urgência de viver instala-se num pequeno coração que volta a bater na jovialidade do seu renascimento. 
Já morri vezes demais. 
O sol desce sobre a minha pele. 
Sinto a carícia do calor e imagino que alguém consegue apreciar este momento com a mesma percepção que eu. 
Tenho uma checklist demasiado grande...demasiado forte. 
Olho à volta e sei que os meus desejos são mito, fantasia, Deus. 
Incógnita na decisão de merecer o que quer que seja, oiço o silêncio a cair com a noite e um olho um copo, que vazio, apresenta apenas vestígios daquilo que foi.