Muito próximo o outfit áquilo que conhecia da minha mente. Não resisti a olhar-te rapidamente de alto abaixo para avaliar quem se apresentava na minha frente. Reconheci-te a voz mas confesso que a imaginava diferente a tua forma de falar. Senti-me atraída para ti desde o primeiro momento e pela aproximação anormal do teu corpo ao meu no cumprimento inicial, diria que sentiste o mesmo.
A conversa fluía como se dois velhos amigos se tivessem sentado à mesa: a única diferença residia no facto de não conseguir olhar-te nos olhos enquanto falava. Não sei se medo ou vergonha, mas na tua dominância sentia a minha em cheque.
O sol entrava pela janela e aquecia-nos além do pretendido: vi pequenas gotas de suor formarem-se na tua testa e mordi levemente o lábio... a minha imaginação ia longe...
Sentia-me tão desconfortável quanto confortável e por mais que desejasse que a conversa continuasse a fluir, havia uma dúvida em mim que não parava de crescer: seria o nosso beijo tão bom quanto o imaginava?
Olhei cada milímetro do teu rosto. Soubesse eu pintar e conseguiria agora replicar os teus olhos, o nariz aquilino que tanto me agrada e os teus lábios onde não me permiti parar por demasiado tempo. Rodaste a cabeça e fixei-me na pele do teu pescoço e no tom moreno que pedia pela minha boca. Os teus ombros e o teu peito são maiores que imaginava e finquei as unhas na perna debaixo da mesa para que não percebesses o quanto me apetecia agarrar-te. Recostaste-te e espreitei por entre os botões da tua camisa a pele do teu peito. Desejei-te mais que o que seria próprio exprimir naquele momento.
A sede aumentava. Já não sabia se era a comida, o sol ou o facto de ter passado tanto tempo secretamente a salivar por ti.
Saímos do calor para o fresco de uma tarde de inverno à beira mar e caminhámos um pouco.
Parámos por imposição do limite do paredão mas foi neste canto que a distância se dissipou. Vi-te fixar as minhas mãos quando apertava com força o cinto do casaco e soube o que te passava pela cabeça. Quase tropecei e agarraste-me puxando-me para ti. A tua mão no meu pescoço não me deixou grande alternativa mas não iria fugir de qualquer maneira. Quando os nossos lábios se juntam e se transformam num beijo senti as pernas tremer. Perdi-me nos teus braços e em pequenas amostras de carícias que recebias muito bem. Entre nós uma oscilação de desejo puro e violento e uma doçura inesperada. Senti que o meu casaco estava a mais e por mais que me colasse a ti não era suficiente para satisfazer a vontade de estar ainda mais perto. “Se te visses como te vejo agora...” e em vez de deixar o silêncio instalar-se saiu-me um “belo manipulador”. És muito mais que o esperava e acredita que as expectativas já eram demasiado elevadas antes de estar contigo. Senti-me humedecer mas ao mesmo tempo queria enroscar-me em ti. Foi um contraditório que me perturbou os sentidos. Senti naquele momento de confidências que queria tudo de ti: com a tua voz no meu ouvido, a tua cara enterrada no meu pescoço e o sol a beijar o mar, o tempo parou.
“Onde está a tua cabeça agora?”, “Longe, num sítio sem tempo e sem pessoas”.
E na minha cabeça todas as loucuras em simultâneo.