sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Inesperado

“Damn it” foi o que ouvi no meu cérebro quando te vi.
Muito próximo o outfit áquilo que conhecia da minha mente. Não resisti a olhar-te rapidamente de alto abaixo para avaliar quem se apresentava na minha frente. Reconheci-te a voz mas confesso que a imaginava diferente a tua forma de falar. Senti-me atraída para ti desde o primeiro momento e pela aproximação anormal do teu corpo ao meu no cumprimento inicial, diria que sentiste o mesmo. 
A conversa fluía como se dois velhos amigos se tivessem sentado à mesa: a única diferença residia no facto de não conseguir olhar-te nos olhos enquanto falava. Não sei se medo ou vergonha, mas na tua dominância sentia a minha em cheque. 
O sol entrava pela janela e aquecia-nos além do pretendido: vi pequenas gotas de suor formarem-se  na tua testa e mordi levemente o lábio... a minha imaginação ia longe... 
Sentia-me tão desconfortável quanto confortável e por mais que desejasse que a conversa continuasse a fluir, havia uma dúvida em mim que não parava de crescer: seria o nosso beijo tão bom quanto o imaginava? 
Olhei cada milímetro do teu rosto. Soubesse eu pintar e conseguiria agora replicar os teus olhos, o nariz aquilino que tanto me agrada e os teus lábios onde não me permiti parar por demasiado tempo. Rodaste a cabeça e fixei-me na pele do teu pescoço e no tom moreno que pedia pela minha boca. Os teus ombros e o teu peito são maiores que imaginava e finquei as unhas na perna debaixo da mesa para que não percebesses o quanto me apetecia agarrar-te. Recostaste-te e espreitei por entre os botões da tua camisa a pele do teu peito. Desejei-te mais que o que seria próprio exprimir naquele momento. 
A sede aumentava. Já não sabia se era a comida, o sol ou o facto de ter passado tanto tempo secretamente a salivar por ti. 
Saímos do calor para o fresco de uma tarde de inverno à beira mar e caminhámos um pouco. 
Parámos por imposição do limite do paredão mas foi neste canto que a distância se dissipou. Vi-te fixar as minhas mãos quando apertava com força o cinto do casaco e soube o que te passava pela cabeça.  Quase tropecei e agarraste-me puxando-me para ti. A tua mão no meu pescoço não me deixou grande alternativa mas não iria fugir de qualquer maneira. Quando os nossos lábios se juntam e se transformam num beijo senti as pernas tremer. Perdi-me nos teus braços e em pequenas amostras de carícias que recebias muito bem. Entre nós uma oscilação de desejo puro e violento e uma doçura inesperada.  Senti que o meu casaco estava a mais e por mais que me colasse a ti não era suficiente para satisfazer a vontade de estar ainda mais perto. “Se te visses como te vejo agora...” e em vez de deixar o silêncio instalar-se saiu-me um “belo manipulador”. És muito mais que o esperava e acredita que as expectativas já eram demasiado elevadas antes de estar contigo. Senti-me humedecer mas ao mesmo tempo queria enroscar-me em ti. Foi um contraditório que me perturbou os sentidos. Senti naquele momento de confidências que queria tudo de ti: com a tua voz no meu ouvido, a tua cara enterrada no meu pescoço e o sol a beijar o mar, o tempo parou. 
“Onde está a tua cabeça agora?”, “Longe, num sítio sem tempo e sem pessoas”. 
E na minha cabeça todas as loucuras em simultâneo. 

domingo, 3 de novembro de 2019

Palavra

Escrevo-te. Não para ti mas a ti.
Não és mais que uma versão gerada a partir de imagens que fui criando das palavras que circulam entre mim e ti. Existindo não me existes.
A semi-rouquidão da tua voz ecoa-me numa memória que se torna antiga. Uma articulação perfeita com toques subliminares de ironia força-me a rewinds constantes: já não no tijolo mas na memória.
A curiosidade foi imediata. A vontade de saber se a tua tridimensionalidade é real cresceu desde então. Percebi-te a rigidez e a armadura desde o primeiro momento enquanto dizia a mim própria que não valia a pena...
Fui tentada. Não por ti mas por outros que me apareciam. Foste o meu “her” e a satisfação de intermitentes momentos de comunicação contigo largamente mais satisfatória que noites que rapidamente seriam obliviadas da memória.
“Não queres jogar esse jogo comigo. Acredita.” Mas os meus olhos encantaram-te e ao ver-te desarmado não consegui conter-me “encontrei a tua fraqueza, não posso para agora”. O meu jogo virou-se do avesso quando, também tu, encontraste a minha fraqueza: não nos sabia tão iguais.
Um reboliço de estímulos assomou-me noite e dia: a cada momento de sossego a minha imaginação era puxada para um quarto onde o sol entra sem pedir licença e inunda uma cama alva como arminho onde sei que vamos acabar. Por entre jogos do toca e foge a tensão aumenta e sou enclausurada por ti quando me beijas com a intensidade de um furacão que me provoca arrepios na pele esbranquiçada. Numa luta por poder e sem fim à vista, as palavras vão trocando de vez com momentos de possessão absoluta. Consigo, por breves instantes, dominar-te sentando-me em cima de ti para que no momento seguinte as minhas mãos estejam imobilizaras atrás das costas expondo à tua boca os seios que pedem por ela. Sinto a tua erecção entre as minhas pernas que anunciam, pelo calor e humidade, que estou mais qua pronta para te receber. “Não ainda, não já... quero mais das tuas mãos no meu corpo”. O frenesim torna-se lento demais e começo a tremer. Perdi-me. Já estou fora de mim. Neste momento não há regas, não há limites. Sinto o meu vestido desaparecer e a tua roupa também. Os nossos peitos colados respiram sofregamente e descompassados e a luxúria toma conta de nós. Sinto a tua língua deslizar para dentro de mim e um gemido solta-se da garganta. Demoras-te enquanto bebes de mim e nenhuma droga me provocaria todas as sensações que me trespassam. “Quero sentir-te” e sem pré- aviso as posições invertem-se para que me deixes beijar-te o peito e os meus dentes cravarem-se na carne macia a caminho de um membro pulsante que abocanho sem pudor. Perco-me por tempo indeterminado querendo, sem dúvida, tudo ao mesmo tempo. Retomas o controlo e de costas para ti sinto o latejar do desejo encostado ao meu rabo enquanto uma mão me agarra o pescoço puxando-me para ti e a outra desce entre as minhas coxas que se mexem contra ela. Por fim, quando o desejo já se tornou dor, deslizas para dentro de mim e sentes um calor inimaginável enquanto, forte e compassadamente nos levas ao êxtase. Caímos sobre os lençóis e vemos o sol pela primeira vez. Contigo ainda dentro de mim e o teu peso sobre o meu corpo,  a tua mão decide deslizar por baixo da minha barriga e fazer o prazer perdurar um pouco mais... só um pouco mais.
Enrolo-me em ti e histórias passam pelo pouco espaço entre nós. O sol já entrou a fundo no quarto e aquece-nos agora tal como nós aquecemos uma e outra vez....
“Volta. Estás a sonhar acordada.”

sábado, 3 de novembro de 2018

Je ne sais quoi

Na tua presença tridimensional soltou-se dos meus lábios um "oh meu Deus".
Olhei-te, e todos os pontos da lista fizeram check.
"Quero-te", decidi no momento em que te levantavas da mesa para me cumprimentar pela primeira vez.
Senti o teu cheiro fazer-me vacilar enquanto uma consternação fingida me trazia de volta ao controlo.
Eu sabia. Nem senti o sabor da comida.
Queria ficar. Tinha que partir.
Já na tua ausência os níveis de distração tornaram-se incomportáveis... difícil ser produtiva quando um jogo está a meio.
"Damn it" e por mais de ti enfrento o pavor de conduzir pelas ruas estreitas de calçada.
Pelo caminho imaginei-nos sentados nos sofás e o jogo a passar ao nível físico facilitado pela proximidade de dois corpos lado a lado.
Mas o teu posicionamente no espaço levou-te a uma mesa de esplanada com um metro entre nós.
Debaixo da mesa sentia as pernas a tremer e o peito acelerar cada vez que te olhava nos olhos.
Muito do que disseste não ouvi... estava muito além daquele momento perdida numa realidade paralela e imaginária...
... sentia as tuas mãos a tocarem-me. Sentia-te tremer da adrenalina e a sossegares perdido no nosso beijo que se tornava mais intenso a cada segundo que passava. Senti os teus dedos a tocarem o meu pescoço e descerem pelas minhas costas... senti-te a pressionar carne contra carne numa fome que de fisiológica se torna inexplicavelmente carnal. 
Sinto os teus olhos a desviarem-se dos meus enquanto falamos... não aguentas a intensidade do meu olhar... e quando desvias a cabeça para não olhar...
... vejo o teu pescoço ficar à minha mercê e muito lentamente pouso os meus lábios nele. Um arrepio percorre-te a espinha numa alucinação anunciada. 
De Baudelaire a Tolkien, de neuroprogramação a declamação, em nenhum momento estava suficientemente perto de ti. O desejo era evidente e era mútuo...
... adoro os teus ombros... a estatura que te dão, a perfeição de um nadador. Sinto-me pequenina no meio dos teus braços enquanto as tuas mão exploram as curvas das minhas ancas e cada centímetro de pele se arrepia à tua passagem. 
Num confessionário de fascinação vejo as tuas covinhas a surgir no teu rosto e os teus olhos a brilhar...
... beijas-me o pescoço e desces ao peito que agarras suavemente fazendo o meus mamilos retesarem-se e pedirem pelos teus lábios. Sinto o calor e a humidade da tua boca e o deleite de te perderes num vale de opolência entre os meus seios.
Vejo-te corar quando me ouves a ler e lembro-me desse rubor de uma qualquer foto depois do banho...   
...e numa aceleração de dois seres dominados pelo desejo, o sangue foge do cérebro para matar o desejo e sem qualquer calma o descontrolo traz-te para dentro de mim.
Mordo os lábios a bloquear a imaginação. "Não faças isso..." e nem sabes o que estás a pedir.
Em ti um je ne sais quois que me deixou desconcertada. 

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Predadores

Um jogo com uma parada alta.  
A somar ao atraso dos meses atraso-me em minutos. “Está frio e tenho sono, devia cancelar isto.” Do outro lado um outro corpo cansado de várias horas de voo.  
No gelo da tarde visto uma figura há muito esquecida num exercício de prazer que há muito não tinha. 
Saio para a rua com o vento a violentar o cabelo acabado de esticar e colá-lo aos lábios pintados de vermelho sangue. Depois de falhar a minha pretensa meticulosa pontualidade encontro no lugar do bistrô um malagueta fechado contigo relaxadamente encostado à caixa de eletricidade “era aqui”. “Batemos à porta?” Pergunto numa tentativa de forçar um sorriso. 
Um velho Irish pub torna-se de improviso o abrigo de um café regado a cerveja e gin tónico. 
A conversa fluía enquanto o espaço entre nós diminuía. “Por falar em comida, ainda não jantámos” e nas horas que voavam mudamos de poiso. 
Num ambiente sossegado e silencioso não senti o sabor da comida: poderia ter sido qualquer coisa que eu não prestei atenção. Trocámos histórias de demónios angelicais e em pequenos toques distraídos tudo se ia tornando mais confortável. 
Dois predadores tinham-se juntado à mesa à espera do outro ser presa. Este tinha-se tornado um jogo com uma parada alta. 
“Onde estacionaste? Eu levo-te ao carro” e anestesiada pelo excesso de álcool caminhei contigo uma caminhada que curta se tornaria longa. E sem ver, sem pressentir sou puxada e sinto o chão a fugir-me quando os teus lábios se cravam nos meus e as nossas bocas se encaixam na naturalidade da perfeição.
No meu cérebro não se gravou a memória dos caminhos que percorremos: gravou-se a memória de beijos fogosos e pequenas lutas de poder. Lembravas-te de tudo, percebi naquele instante. Aquele instante em que sem te querer largar queria o aconchego de um tecto para poder continuar o jogo. A chuva aparecia intermitentemente a expulsar-nos da rua por onde passavam pessoas que olhavam dois adolescentes. Não me lembro da última vez que me senti tão viva. E com o cabelo em desalinho corro para o teu ninho lembrando a mim mesma “you’re a demon but yet an angel, all things in one”.  
Entre beijos e palavras o tempo pareceu não ter tempo. "És um tesão" e na crueza das palavras percebi que me apreciavas. O teu toque era o refúgio que precisava e nem quando o grand finale durou apenas 10 segundos deixei de sentir agradecida. As palavras continuaram servidas com pequenas carícias: aquela era  uma noite para desfrutar. Desfrutar do atraso. Desfrutar do demasiado pouco. 
Quero mais. O relógio lembra-nos das obrigações mundanas: sorte a nossa que o tempo deu-nos uma hora extra.  
Deixei-te e os meus lábios fragilizados da intensidade do teu beijo pediam por mais.  
No gelo da chuva e da noite avançada senti o meu coração bater desenfreadamente. 
“Raios, vais-me ficar na cabeça.” 
E o dia seguinte comprovou que eu tinha razão. Quero mais.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Senhor dos meus sentimentos

Voltei mais cedo a Lisboa. Voltei por ti. 
Tirei do armário o vestido novo e da caixa os sapatos pretos de verniz também por estrear. Enchi-me de dedicação e maquilhei-me com esmero. 
Ver-te é sempre uma emoção... olhar nos teus olhos profundamente castanhos e sentir a esperança que vejo neles alimenta-me a alma.
A luz mortiça do candeeiro na carruagem ficava-te tão bem... 
Volto a casa depois de horas que pareceram minutos e sinto o coração a querer saltar pela boca. 
Escrevo e continuo a senti-lo a palpitar fortemente no meu peito como se não houvesse amanhã. 
Guardo em mim um sentimento de paz enquanto as minhas mãos deslizam criando palavras ao som de Yiruma. 
Que sentimento tão maravilhoso... Fazes-me sentir tão viva. Fazes-me sentir tão bem. 
Sinto no peito a tua presença esta noite... Tudo o que preciso tu me deste. 
Faltou-me o toque da tua mão na minha mas imaginei-o toda a noite enquanto saltitávamos entre conversas e eu reparava nos marcas de quem também rói os dedos. 
Abri-me mais um pouco. Procurei ler-te as entrelinhas. 
Eu sei que perguntei, mas não precisava. 
Sei as tuas qualidades. Consigo fazer um pitch de ti até ao amanhecer... faço-o todos os dias quando conto que me encantas sem qualquer motivo racional, sem que eu te consiga encaixar em matriz alguma, sem que consiga explicar porque é que sinto o que sinto. 
Como podes sequer achar que eu iria ter coragem de te enfrentar a arriscar acabar com as emoções que me são mais queridas? Consegues sequer imaginar quão rejuvenescedor é sentir após tanto tempo de momentos vãos? 
Admiro-te... de todas as maneiras. 
Os teus valores, a tua inteligência, o teu sorriso... mesmo não sendo igual ao das fotografias que tirei antes de hoje te encontrar.   
Falavas, e enquanto as palavras saíam eu memorizava cada traço dos teus lábios, cada curva do teu rosto. Olhava o teu pescoço e desejava afogar-me nele. Tenho agora na memória o tom e a textura da tua pele. 
Deliciei-me com a imagem do teu tronco, os teus braços e até a desorganização dos teus dentes. Memorizei-te. Quero-te trazer para os meus sonhos quando na verdade és muito mais que um ser físico aos meus olhos e te tornaste numa presença etérea na minha vida. 
Foi difícil controlar todas as emoções que me iam no peito mas nada é fácil contigo... Se fosse não me serias tão importante. 
Vou continuar a aguardar que me desafies porque não te vou impor a minha presença: uma das coisas mais belas e inéditas deste sentimento é a tranquilidade e a voluntariedade em esperar... sim, vou continuar a aguardar e dar-te o tempo que queiras ou não consumir. É da minha natureza uma antítese, mas sinto-me feliz só por estar presente. 
Sei que se te contasse que és tu quem eu mais quero... que abro as tuas fotos várias vezes durante a semana só para ver esses olhos que me entram na alma... sei que se te contasse me fugirias entre os dedos. 
Disseste que não falei da pessoa que mais me fascina e que me arrebata a alma mas dei-te todas as pistas desde o início: na tua capacidade inabalável de ler pessoas não conseguiste ler-me. 
Não sabes, mas foste tu quem travou todos os outros. E em breve chegará o dia em que me poderás olhar na confiança da minha capacidade de estar sozinha e assim ser feliz. 
Não te quero ver meter duas e três barreiras entre nós... uma é suficiente. 
Queria poder ter a oportunidade de te abraçar e refugiar-me nos teus braços. Não, não porque precise mas porque é neles que a minha alma se sente quando estou contigo. 
Sei que é impossível mas na impossibilidade do toque guardo o calor que, como uma fogueira, me aquece o coração. 
Dizes que o que mais anseias é sentir... e por isso sei que nada sentes por mim. 
Mas... importando não importa. 
Não te vou dar a hipótese de me recusares. 
Sim, somos adultos. Sim, devemos falar. Não, não o irei fazer. 
O que vai cá dentro é demasiado precioso para desaparecer na amargura de uma rejeição. 
Afinal, deste-me a inspiração para voltar a escrever. 
Vou deixar o tempo passar e aproveitar cada dádiva tua. 
Que sejas o alimento das minhas palavras, que sejas o senhor dos meus sentimentos.

domingo, 27 de novembro de 2016

Potencial

Tens potencial de criar estragos em mim.
De me deixares perdida, de me fazeres sentir consumida por emoções tão violentas quanto pacificadoras.
Tens em ti a sapiência que me excita e na personalidade o equilíbrio a mascarar feridas antigas e profundas. Tens medos e receios que, admitindo, te fazem humano. 
A sensibilidade nas pequenas coisas e a força nas grandes. A ambição e a determinação são das mais fascinantes que conheço.
Olho para o tipo de aparência que me fascina... imagino-te no abstracto dos meus lábios e dos meus braços. 
Vejo em ti a paz que preciso nas horas calmas. Adivinho aquele copo de vinho, o piano a tocar no fundo e a tranquilidade com que sempre sonhei a invadirem o meu mundo. 
Tens potencial de me levar à desgraça... 
Perder-me em ti por quanto as nossas conversas não têm fim enquanto as horas têm. 
Fecho os olhos e sorrio com a envolvência de um charme num trono de espadas. 
Felino, ousas disputar a minha posição. Consistente, desarmas-me constantemente. 
No peito o coração dispara de irritação e bloqueio mas o sentimento que permanece é rejuvenescedor. 
Há algo que parecem segredos a circular no nosso espaço: contei-te coisas escondidas. Percebeste o que ninguém tinha percebido. 
Sim, somos demasiado parecidos. Sim, gostamos demasiado de nós próprios.
Não quero ver-te mais... quero passar mais tempo contigo. 
Quero aqueles momentos raros e fugazes em que entro em modo de controlo descontrolo: quero agarrar-te, apertar-te em mim e deixar que tu e eu nos afundemos no paraíso. 
Fico tola, pareço mentalmente diminuída... e o pior é divertir-me com isso.
Sinto-me a cegar. Mas vale-me a distância constante para que os meus olhos não se fechem: continuo a ver-me ao espelho e sei que não chego. 
Tens potencial para me arrebatar a alma mas continuarei a resistir a que o faças. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Episódios de um coração em coma

Episódio 1

Feita de ferro.
Coração numa sala de hospital em coma.
Cérebro como guardião armado até aos dentes.
Desafiado pela honestidade e pela tua crueldade o cérebro desembainhou as espadas e entrou em estado de alerta máximo. Mandou chamar a memória e todo o departamento de emotional analytics. Armou-se uma barreira com todos os sentimentos protectores a darem o corpo ao manifesto.
O coração, fechado no seu quarto e paralisado começou a estremecer.
O cérebro entra em pânico: "Que está a acontecer? Chamem os médicos!"
E todo o departamento racional vem a correr em direção a ele e depois de muito examinar determina:
"Os sinais não são conclusivos e não sabemos que possa estar a acontecer... Provavelmente começou apenas a sonhar..."
O cérebro desconfiou... Armou-se ainda mais e foi criando pequenos soldados chamados lógica.
Todos quietos. Todos em espera.
Cá dentro o cérebro não sabe o que fazer e o coração começa a ter... espasmos?
"Que está a acontecer?" Grita o cérebro em confusão absoluta. À sua volta inicia-se uma amnésia colectiva no corpo de soldados e começa a confusão com todos a esbarrarem uns nos outros e a colidirem contra as paredes.
"Parem! Que estão a fazer? Que vírus apanharam vocês? Estão todos malucos?"
O cérebro foge e fecha-se com o coração dentro do quarto.
Vê que tenuamente e ainda de olhos fechados o coração parece ter começado a respirar...
"Será?"