quarta-feira, 13 de junho de 2012

O outro lado dos Santos

Lisboa abanou por mais uma noite. 
Os Santos Populares têm uma capacidade extraordinária de trazer gente à rua e de colocar o povo em alvoroço a abusar da noite de Santo António. 
Demasiada gente invadiu as ruas. Demasiados carros entraram na Cidade. Demasiado álcool foi consumido. 
As ruas cheiravam a urina e não havia wc em lado nenhum. Paguei 0,50€ para entrar numa antiga casa Lisboeta, que tinha apenas uma divisão, para conseguir usar uma casa de banho. A tinta saltava da parede e a decoração remontava aos anos 70 e deliciei-me ao invadir assim um mundo que me era desconhecido. A fotografia da mãe e naperon a decorarem a sala/quarto e a antiga frigideira de latão pousada no fogão. 
Os negócios aconteciam a cada canto, com razões e proveitos diferentes: bebida, comida, drogas. Nesta noite tudo se vende e tudo se compra. Os preços foram sendo inflacionados ao longo da noite e à medida que diminuía a oferta. Qualquer canto, qualquer pátio, qualquer janela eram bons lugares para acrescentar alguns trocos ao rendimento mensal.  
O mar de gente que empurrava para a frente e para trás adensou-se a meio da noite e pensei que era esmagada. As pessoas empurravam-se, acotovelavam-se e insultavam-se tentando romper por entre os impacientes bêbedos e os semi-conscientes.  
O lixo abundava por todo o lado e amontoava-se debaixo dos pés causando ainda mais instabilidade na deslocação por entre a multidão. 
A noite começou a ficar perigosa...
No final da noite precisei de descer da Sé, ir até ao Cais do Sodré e subir ao Príncipe Real para apanhar um táxi: em cada praça as filas tinham dezenas de pessoas. Foram 3 km a subir Lisboa que percorri, já exausta, às 5 da manhã. 
A Cidade parecia que apenas àquela hora estava a começar a adormecer... e eu já tinha passado à muito o limite da lucidez. 




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