Voltei mais cedo a Lisboa. Voltei por ti.
Tirei do armário o vestido novo e da caixa os sapatos pretos de verniz também por estrear. Enchi-me de dedicação e maquilhei-me com esmero.
Ver-te é sempre uma emoção... olhar nos teus olhos profundamente castanhos e sentir a esperança que vejo neles alimenta-me a alma.
A luz mortiça do candeeiro na carruagem ficava-te tão bem...
Volto a casa depois de horas que pareceram minutos e sinto o coração a querer saltar pela boca.
Escrevo e continuo a senti-lo a palpitar fortemente no meu peito como se não houvesse amanhã.
Guardo em mim um sentimento de paz enquanto as minhas mãos deslizam criando palavras ao som de Yiruma.
Que sentimento tão maravilhoso... Fazes-me sentir tão viva. Fazes-me sentir tão bem.
Sinto no peito a tua presença esta noite... Tudo o que preciso tu me deste.
Faltou-me o toque da tua mão na minha mas imaginei-o toda a noite enquanto saltitávamos entre conversas e eu reparava nos marcas de quem também rói os dedos.
Abri-me mais um pouco. Procurei ler-te as entrelinhas.
Eu sei que perguntei, mas não precisava.
Sei as tuas qualidades. Consigo fazer um pitch de ti até ao amanhecer... faço-o todos os dias quando conto que me encantas sem qualquer motivo racional, sem que eu te consiga encaixar em matriz alguma, sem que consiga explicar porque é que sinto o que sinto.
Como podes sequer achar que eu iria ter coragem de te enfrentar a arriscar acabar com as emoções que me são mais queridas? Consegues sequer imaginar quão rejuvenescedor é sentir após tanto tempo de momentos vãos?
Admiro-te... de todas as maneiras.
Os teus valores, a tua inteligência, o teu sorriso... mesmo não sendo igual ao das fotografias que tirei antes de hoje te encontrar.
Falavas, e enquanto as palavras saíam eu memorizava cada traço dos teus lábios, cada curva do teu rosto. Olhava o teu pescoço e desejava afogar-me nele. Tenho agora na memória o tom e a textura da tua pele.
Deliciei-me com a imagem do teu tronco, os teus braços e até a desorganização dos teus dentes. Memorizei-te. Quero-te trazer para os meus sonhos quando na verdade és muito mais que um ser físico aos meus olhos e te tornaste numa presença etérea na minha vida.
Foi difícil controlar todas as emoções que me iam no peito mas nada é fácil contigo... Se fosse não me serias tão importante.
Vou continuar a aguardar que me desafies porque não te vou impor a minha presença: uma das coisas mais belas e inéditas deste sentimento é a tranquilidade e a voluntariedade em esperar... sim, vou continuar a aguardar e dar-te o tempo que queiras ou não consumir. É da minha natureza uma antítese, mas sinto-me feliz só por estar presente.
Sei que se te contasse que és tu quem eu mais quero... que abro as tuas fotos várias vezes durante a semana só para ver esses olhos que me entram na alma... sei que se te contasse me fugirias entre os dedos.
Disseste que não falei da pessoa que mais me fascina e que me arrebata a alma mas dei-te todas as pistas desde o início: na tua capacidade inabalável de ler pessoas não conseguiste ler-me.
Não sabes, mas foste tu quem travou todos os outros. E em breve chegará o dia em que me poderás olhar na confiança da minha capacidade de estar sozinha e assim ser feliz.
Não te quero ver meter duas e três barreiras entre nós... uma é suficiente.
Queria poder ter a oportunidade de te abraçar e refugiar-me nos teus braços. Não, não porque precise mas porque é neles que a minha alma se sente quando estou contigo.
Sei que é impossível mas na impossibilidade do toque guardo o calor que, como uma fogueira, me aquece o coração.
Dizes que o que mais anseias é sentir... e por isso sei que nada sentes por mim.
Mas... importando não importa.
Não te vou dar a hipótese de me recusares.
Sim, somos adultos. Sim, devemos falar. Não, não o irei fazer.
O que vai cá dentro é demasiado precioso para desaparecer na amargura de uma rejeição.
Afinal, deste-me a inspiração para voltar a escrever.
Vou deixar o tempo passar e aproveitar cada dádiva tua.
Que sejas o alimento das minhas palavras, que sejas o senhor dos meus sentimentos.