Deitei-me numa banheira de água a ferver. Senti a alma a sair do corpo e todos os músculos a deixarem de lutar. Cedi. Os vasos sanguíneos dilataram-se de calor, água e do vinho que escorregava pela minha garganta sequiosa. O vapor envolvia cada traço do meu corpo e a água parecia atribuir à minha pele uma tonalidade ainda mais branca. Senti o cabelo a flutuar no silêncio da água: a ausência de som descansa-me o cérebro.
Brinquei com bolhas de sabão como se tivesse cinco anos e ouvi 7 vezes o relógio dos vizinhos dar badaladas.
Não queria abandonar aquele abandono nunca. Nada me doía. Nada magoava.
Só a liberdade de um corpo nu numa banheira cheia e um copo carregado de álcool a toldar-me o cérebro. Todos os meus dias deveriam ter este fim.
( Mas não ia ganhar para a água e gás.)
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