terça-feira, 23 de outubro de 2012

Elegibilidade

Não sou elegível. 
As coisas mudam de sítio sem eu lhes tocar.
"Não és elegível."
Todo o tempo passa violentamente pelo meu corpo.
"Não te posso manter."
E as árvores ficam sem folhas. 
Durmo numa semi-consciência de sobressalto. 
Há uma mosca perto de mim. Quero matá-la.
Oiço um zumbido constante. Morre estúpida!
Os carros passam na rua. O comboio abranda nos carris. 
De repente o tempo pára. 
Olho de fora para um mundo que já foi meu e percebo que revisito coisas desaparecidas. 
Sonho com coisas perdidas. Um relógio, um anel, um momento. 
No fundo do poço cai um pirilampo. Uma luz ténue que na escuridão impenetrável se torna holofote. 
Imersa em auto-comiseração sinto-me a passar a uma forma imberbe. 
Amorfa os meus olhos pousados no nada fitam apenas um círculo de luz demasiado distante. 
Morre mosca. Deixa-me em silêncio. 
 

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