domingo, 31 de março de 2013

Dirty dancing

As expectativas não eram nenhumas...ou melhor, oscilavam entre o 0 e -1. 
Decidi que ia: quanto muito iria ficar a rir-me a a deixar o álcool invadir o meu sangue. Decidi ir porque se não fosse,  seria mais uma noite de sábado perdida e roubada à minha juventude.
O que se seguiu foi impossível de descrever...
A música puxava pelo meu corpo mas eu não sei dançar. 

Batidas quentes e na pista parecia que os corpos se fundiam visualmente enquanto do meu canto eu apreciava a magia. 
Uma mão agarra a minha e leva-me dali... 
"Eu não sei dançar", "não faz mal, anda eu ensino-te". Em passos rijos e movimentos presos uma música passa e termina comigo a trocar os pés a cada 15 segundos.
Uma nova mão estende-se e leva-me para dançar " Eu não sei dançar", " eu ensino-te". 

E entre a explicação monitorizada de dois passos para um lado e um passo para o outro e duas mãos a violentarem as minhas costelas e a fincarem-se nas minhas ancas, lá me mexi descompassadamente. 
"Não partas a rapariga" e uma mão resgata-me deste movimento mecanizado e bruto.
"Eu não sei dançar", " Deixa-te ir.." e eu deixei...
Deixei que um corpo encaixasse no meu, que os meus pés seguissem o som da música que parecia agora entrar directamente na minha alma. Deixei as mãos serem apoio e senti cada pedaço de movimento de olhos bem fechados. As minhas mãos a tocarem o pescoço e o cabelo e a vontade de o agarrar enquanto o meu peito se colava noutro e a respiração entrou em red line. Dois corpos molhados e gotas de suor a saltarem e a escorregarem para o meu peito e a esconderem-se entre os meus seios. Um par de mãos a fazer-me rodopiar em movimentos que eu só tinha visto em filmes e uma anca contra a minha numa movimentação compassada e sensual. O corpo a sentir a alma e pequenos minutos a fazerem com que a relação espaço-tempo se extinguisse no buraco negro que foi uma percepção de lúxuria e erotismo.

A música a mesclar sentidos e a entorpecer a minha existência. 
Com o corpo certo eu sei dançar.

terça-feira, 19 de março de 2013

Racionalidade

Odeio a racionalidade. 
Talvez por ser tão dependente dela e lhe conceder tanto crédito. 
Odeio-a!
Não quero ter que tomar decisões com base nela. 
Não quero fazer as coisas porque preciso! e nesta necessidade reside a chamada e amiga racionalidade!
Quero fazer o que quero. 
Quero poder querer. 
Quero poder querer ter querido. 
Raios!
Toda a estratégia inerente a anos de análises precisas e implacáveis, a planeamentos meticulosos e estruturados, a deixas pensadas e palavras manipuladas são lixo para mim. 
Abri os olhos para a minha ingenuidade atabalhoada e sou mais que um complexo de jogos intercalados e imprevisíveis.
Quero ser eu.

domingo, 3 de março de 2013

Palco

Retiro-me de cena de mansinho. 
Os atores em palco a contracenar. O mundo a continuar a sorver a peça que nunca termina.
Espectadores na plateia. Personagens no palco. 
Subtilmente afasto-me para o limite da visão do público. Estaco no momento em que tenho que decidir sair ou continuar.
Um limbo. 
Não consigo escolher de que lado serei mais feliz.