domingo, 4 de dezembro de 2016

Senhor dos meus sentimentos

Voltei mais cedo a Lisboa. Voltei por ti. 
Tirei do armário o vestido novo e da caixa os sapatos pretos de verniz também por estrear. Enchi-me de dedicação e maquilhei-me com esmero. 
Ver-te é sempre uma emoção... olhar nos teus olhos profundamente castanhos e sentir a esperança que vejo neles alimenta-me a alma.
A luz mortiça do candeeiro na carruagem ficava-te tão bem... 
Volto a casa depois de horas que pareceram minutos e sinto o coração a querer saltar pela boca. 
Escrevo e continuo a senti-lo a palpitar fortemente no meu peito como se não houvesse amanhã. 
Guardo em mim um sentimento de paz enquanto as minhas mãos deslizam criando palavras ao som de Yiruma. 
Que sentimento tão maravilhoso... Fazes-me sentir tão viva. Fazes-me sentir tão bem. 
Sinto no peito a tua presença esta noite... Tudo o que preciso tu me deste. 
Faltou-me o toque da tua mão na minha mas imaginei-o toda a noite enquanto saltitávamos entre conversas e eu reparava nos marcas de quem também rói os dedos. 
Abri-me mais um pouco. Procurei ler-te as entrelinhas. 
Eu sei que perguntei, mas não precisava. 
Sei as tuas qualidades. Consigo fazer um pitch de ti até ao amanhecer... faço-o todos os dias quando conto que me encantas sem qualquer motivo racional, sem que eu te consiga encaixar em matriz alguma, sem que consiga explicar porque é que sinto o que sinto. 
Como podes sequer achar que eu iria ter coragem de te enfrentar a arriscar acabar com as emoções que me são mais queridas? Consegues sequer imaginar quão rejuvenescedor é sentir após tanto tempo de momentos vãos? 
Admiro-te... de todas as maneiras. 
Os teus valores, a tua inteligência, o teu sorriso... mesmo não sendo igual ao das fotografias que tirei antes de hoje te encontrar.   
Falavas, e enquanto as palavras saíam eu memorizava cada traço dos teus lábios, cada curva do teu rosto. Olhava o teu pescoço e desejava afogar-me nele. Tenho agora na memória o tom e a textura da tua pele. 
Deliciei-me com a imagem do teu tronco, os teus braços e até a desorganização dos teus dentes. Memorizei-te. Quero-te trazer para os meus sonhos quando na verdade és muito mais que um ser físico aos meus olhos e te tornaste numa presença etérea na minha vida. 
Foi difícil controlar todas as emoções que me iam no peito mas nada é fácil contigo... Se fosse não me serias tão importante. 
Vou continuar a aguardar que me desafies porque não te vou impor a minha presença: uma das coisas mais belas e inéditas deste sentimento é a tranquilidade e a voluntariedade em esperar... sim, vou continuar a aguardar e dar-te o tempo que queiras ou não consumir. É da minha natureza uma antítese, mas sinto-me feliz só por estar presente. 
Sei que se te contasse que és tu quem eu mais quero... que abro as tuas fotos várias vezes durante a semana só para ver esses olhos que me entram na alma... sei que se te contasse me fugirias entre os dedos. 
Disseste que não falei da pessoa que mais me fascina e que me arrebata a alma mas dei-te todas as pistas desde o início: na tua capacidade inabalável de ler pessoas não conseguiste ler-me. 
Não sabes, mas foste tu quem travou todos os outros. E em breve chegará o dia em que me poderás olhar na confiança da minha capacidade de estar sozinha e assim ser feliz. 
Não te quero ver meter duas e três barreiras entre nós... uma é suficiente. 
Queria poder ter a oportunidade de te abraçar e refugiar-me nos teus braços. Não, não porque precise mas porque é neles que a minha alma se sente quando estou contigo. 
Sei que é impossível mas na impossibilidade do toque guardo o calor que, como uma fogueira, me aquece o coração. 
Dizes que o que mais anseias é sentir... e por isso sei que nada sentes por mim. 
Mas... importando não importa. 
Não te vou dar a hipótese de me recusares. 
Sim, somos adultos. Sim, devemos falar. Não, não o irei fazer. 
O que vai cá dentro é demasiado precioso para desaparecer na amargura de uma rejeição. 
Afinal, deste-me a inspiração para voltar a escrever. 
Vou deixar o tempo passar e aproveitar cada dádiva tua. 
Que sejas o alimento das minhas palavras, que sejas o senhor dos meus sentimentos.

domingo, 27 de novembro de 2016

Potencial

Tens potencial de criar estragos em mim.
De me deixares perdida, de me fazeres sentir consumida por emoções tão violentas quanto pacificadoras.
Tens em ti a sapiência que me excita e na personalidade o equilíbrio a mascarar feridas antigas e profundas. Tens medos e receios que, admitindo, te fazem humano. 
A sensibilidade nas pequenas coisas e a força nas grandes. A ambição e a determinação são das mais fascinantes que conheço.
Olho para o tipo de aparência que me fascina... imagino-te no abstracto dos meus lábios e dos meus braços. 
Vejo em ti a paz que preciso nas horas calmas. Adivinho aquele copo de vinho, o piano a tocar no fundo e a tranquilidade com que sempre sonhei a invadirem o meu mundo. 
Tens potencial de me levar à desgraça... 
Perder-me em ti por quanto as nossas conversas não têm fim enquanto as horas têm. 
Fecho os olhos e sorrio com a envolvência de um charme num trono de espadas. 
Felino, ousas disputar a minha posição. Consistente, desarmas-me constantemente. 
No peito o coração dispara de irritação e bloqueio mas o sentimento que permanece é rejuvenescedor. 
Há algo que parecem segredos a circular no nosso espaço: contei-te coisas escondidas. Percebeste o que ninguém tinha percebido. 
Sim, somos demasiado parecidos. Sim, gostamos demasiado de nós próprios.
Não quero ver-te mais... quero passar mais tempo contigo. 
Quero aqueles momentos raros e fugazes em que entro em modo de controlo descontrolo: quero agarrar-te, apertar-te em mim e deixar que tu e eu nos afundemos no paraíso. 
Fico tola, pareço mentalmente diminuída... e o pior é divertir-me com isso.
Sinto-me a cegar. Mas vale-me a distância constante para que os meus olhos não se fechem: continuo a ver-me ao espelho e sei que não chego. 
Tens potencial para me arrebatar a alma mas continuarei a resistir a que o faças. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Episódios de um coração em coma

Episódio 1

Feita de ferro.
Coração numa sala de hospital em coma.
Cérebro como guardião armado até aos dentes.
Desafiado pela honestidade e pela tua crueldade o cérebro desembainhou as espadas e entrou em estado de alerta máximo. Mandou chamar a memória e todo o departamento de emotional analytics. Armou-se uma barreira com todos os sentimentos protectores a darem o corpo ao manifesto.
O coração, fechado no seu quarto e paralisado começou a estremecer.
O cérebro entra em pânico: "Que está a acontecer? Chamem os médicos!"
E todo o departamento racional vem a correr em direção a ele e depois de muito examinar determina:
"Os sinais não são conclusivos e não sabemos que possa estar a acontecer... Provavelmente começou apenas a sonhar..."
O cérebro desconfiou... Armou-se ainda mais e foi criando pequenos soldados chamados lógica.
Todos quietos. Todos em espera.
Cá dentro o cérebro não sabe o que fazer e o coração começa a ter... espasmos?
"Que está a acontecer?" Grita o cérebro em confusão absoluta. À sua volta inicia-se uma amnésia colectiva no corpo de soldados e começa a confusão com todos a esbarrarem uns nos outros e a colidirem contra as paredes.
"Parem! Que estão a fazer? Que vírus apanharam vocês? Estão todos malucos?"
O cérebro foge e fecha-se com o coração dentro do quarto.
Vê que tenuamente e ainda de olhos fechados o coração parece ter começado a respirar...
"Será?"

sábado, 12 de novembro de 2016

palavra (original)


(Banda sonora)

Queria poder ouvir a tua voz no meu ouvido... 
Essa voz profunda e que me causa arrepios. 
Não entendo a tua matéria prima. 
Não compreendo os sentimentos que me assolam.
Juro não cair aos teus pés mas cairia de bom grado... 
A minha palavra perde o valor quando o que quero e o que digo não se articulam.
São pequenos momentos controlados sem consequência mas uma vontade inédita de te ter em jogo... quero-te... mas este espaço que existe entre mim e ti é ainda mais apaixonante. O elástico que te afasta e te puxa é algo de maravilhoso. 
A minha estupidez é constante e perto de ti sinto-me tola... básica. Uma incapacidade permanente de te seduzir usando o meu maior trunfo. 
És uma espécie que desconheço, que me desarma, que me desnuda, que puxa pela minha existência mais pura, mais genuína. 
Olho o meu quadro branco todos os dias e inunda-me o riso que contigo é uma constante. Adoro as pequenas rugas que se formam no canto dos meus lábios quando sou simplesmente eu nos parcos momentos que partilhamos.  
Sinto uma curiosidade imensa no que és e uma necessidade de conhecer cada recanto da tua mente desconstruindo-te. Almejo o teu pouco tempo porque no nosso metro quadrado há uma mistura de paz e excitação onde me apercebo que há demasiadas coisas que quero fazer contigo. 
Mas deixo-me quedar... a proximidade ao sonho é demasiada. 


(A ti que ainda não existes na minha vida...)

Partner in crime

Há uma semelhança. Há tudo por construir.
Nos dedos que deslizam pelas teclas, no filme que passa na televisão e do qual desconheço o nome, na absorção de um mundo que facilmente se tornou só nosso. 
Tomaste-me o tempo e ganhaste cada minuto com o anterior... 
Ficou em mim uma sensação de insaciabilidade inexplicável enquanto despoletas em mim uma curiosidade desconhecida. 
Percebes-me. Aguentas-me. Toleras-me. 
Não me mandas embora quando te magoo para saber como reages. 
Passas cada desafio, cada teste com excelência. 
Consegues exigir de mim mais que o normal e adoro cada momento em que me fazes sorrir. É demasiado fácil falar contigo...
A minha ambição parece ter encontrado par e a garra um aliado. Somos feitos da mesma matéria, daquela que tudo aguenta e nunca se satisfaz.. tornar-te-às facilmente my "partner in crime". 
Perturba-me a tua existência e a incógnita que toda esta história nos traz... Anseio o momento de ver que existes mas temo profundamente perder o quase nada que possuímos. 
Tenho medo de te encontrar e perceber que te encontrei.


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Palavra


(Banda sonora)

Queria poder ouvir a tua voz no meu ouvido... 
Essa voz profunda e que me causa arrepios. 
Não entendo a tua matéria prima. 
Não compreendo os sentimentos que me assolam.
Juro não cair aos teus pés mas cairia de bom grado... 
A minha palavra perde o valor quando o que quero e o que digo não se articulam.
São pequenos momentos controlados sem consequência mas uma vontade inédita de te ter em jogo... quero-te... mas este espaço que existe entre mim e ti é ainda mais apaixonante. O elástico que te afasta e te puxa é algo de maravilhoso. 
A minha estupidez é constante e perto de ti sinto-me tola... básica. Uma incapacidade permanente de te seduzir usando o meu maior trunfo. 
És uma espécie que desconheço, que me desarma, que me desnuda, que puxa pela minha existência mais pura, mais genuína. 
Olho o meu quadro branco todos os dias e inunda-me o riso que contigo é uma constante. Adoro as pequenas rugas que se formam no canto dos meus lábios quando sou simplesmente eu nos parcos momentos que partilhamos.  
Sinto uma curiosidade imensa no que és e uma necessidade de conhecer cada recanto da tua mente desconstruindo-te. Almejo o teu pouco tempo porque no nosso metro quadrado há uma mistura de paz e excitação onde me apercebo que há demasiadas coisas que quero fazer contigo. 
Mas deixo-me quedar... a proximidade ao sonho é demasiada. 

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Prova dos 9

Solto o cabelo e ao meu nariz apurado vem o teu cheiro que nele foi raptado.
Olhei-te. Nunca te vi. 
Autista na percepção estudada de leitura de rostos tenho deixado o cérebro adormecido. 
Maquiavélica na busca do prazer deixo os olhos fechados quando o intrincado de sensações me arrebataria a alma.
Pequenos traços de depravação a serem evidenciados por reacções paralelas a conversas perfeitamente banais.
Palavras soltas em conversas saltitantes não retidas numa memória tinta enquanto dois adultos voltam a viver a adolescência. 
Sensações deliciosas sobrevivendo à noite como sendo a única lembrança de longos toques determinados e consistentes num espaço dividido. 
Os meus lábios colados à fina pele do teu pescoço. Um beijo, dois, três. 
A voluptuosidade de um encontro de corpos em desejo... um pouco mais.... um pouco mais... gritam duas bocas sôfregas e eloquentes a  assediarem-me mutuamente. 
Uma noite esquizofrênica a terminar num resultado líquido parcamente calculado. 
Requesita-se a prova dos 9. 

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Devias...

Devias estar aqui comigo... 
Passeávamos à beira mar...
Deixávamos as ondas beijarem os nossos pés descalços.
Dançávamos na areia molhada...
Enrolávamo-nos na serenidade da noite debaixo de uma lua imensa... Na areia que esfria mas se mantém confortável.
Deixavámos que a noite descesse sobre nós e via-te fechar os olhos e deixares-te ir nos meus braços perdido nos meus beijos.
Devias estar aqui a construir memórias que se gravam a ferro e fogo. A conheceres o sentimento do que é viveres um romance que ultrapassa as fronteiras do tempo, as fronteiras do espaço. 
Devias estar aqui... Entregue aos caprichos do corpo e da voluptuosidade. A compreender onde os maiores poetas da história encontraram inspiração. 
Devias estar aqui... E na ausência de espaço e tempo teres o vislumbre de uma paixão tão intensa que trucida a alma de vontade e de desejo. 
Devias estar aqui... E ouvir as ondas que suavemente rebentam e me provocam um arrepio na espinha que devias ser tu a provocar. 
Devias estar aqui... 
Na prisão de um desejo imensurável e violento que faria as tuas mãos não largarem as minhas e os nossos corpos colarem na sofreguidão de uma noite que não quereríamos ver terminada.
Devias...mas não existes.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Unspoken

No doce encanto de um dia que se move serenamente para a noite sossego na paz de uma existência que se encontra com o espelho pela primeira vez. 
Na quietude das palavras que ainda não foram proferidas auguro um abrir do pano e de palco inéditos. 
Sossego. 
Na calma e perseverança de um ser que agora vive constantemente preso num sonho acordado. 
Os sentidos apresentam-se ao serviço impecavelmente eficientes. 
As rugas voltaram a morar no canto dos lábios. 
A urgência de viver instala-se num pequeno coração que volta a bater na jovialidade do seu renascimento. 
Já morri vezes demais. 
O sol desce sobre a minha pele. 
Sinto a carícia do calor e imagino que alguém consegue apreciar este momento com a mesma percepção que eu. 
Tenho uma checklist demasiado grande...demasiado forte. 
Olho à volta e sei que os meus desejos são mito, fantasia, Deus. 
Incógnita na decisão de merecer o que quer que seja, oiço o silêncio a cair com a noite e um olho um copo, que vazio, apresenta apenas vestígios daquilo que foi.