sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A vida no sítio certo

A vida nunca é como nos contos de fadas. 
Nunca o é porque nos contaram que o príncipe encantado irá aparecer um dia, que o pote de ouro chegará a nós no fim da licenciatura e porque os unicórnios são seres alados, raros e perfeitos.
Acomodámo-nos. 
Nunca pegámos em nós. 
Esquecemo-nos de lutar por aquilo que nos faz melhores e maiores.
O dia em que a tua alma decide que és a coisa mais importante do universo é o dia em que ela se encontra e se torna maior.
No dia em que pões tudo o que és e o que queres ser em primeiro lugar, os príncipes encantados encantam-se por ti.
O dia em que a perseguição pelo pote de ouro deixa de existir e arriscas seguir outro caminho que não o trilhado por todos, é quando encontramos aquele cume alto que nos permite ver mais longe e decidir o nosso caminho. 
E os unicórnios.. bem, esses são os seres alados que te mantêm a imaginação activa e que te relembram que ela é o dom mais importante que tens. 
A vida é única. 
A sede de viver faz dela a coisa mais preciosa que podes ostentar. 
Mete tudo o que queres ser e fazer na chama que brilha no teu coração e na ambição de querer ser melhor e chegar mais longe... o caminho, esse, abrir-se-à perante ti. 
Sê, de uma vez por todas, o unicórnio que és: um ser raro e único em aprendizagem e aperfeiçoamento constantes. 

(C. estarei sempre aqui como a amiga que te puxa as orelhas)

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Incógnita

Revejo-te. 
Nas horas intermináveis e no descomplexo do tempo os teus lábios presenteiam-me com a sua memória. 
A carne e o espírito confundem-se num afastamento fingido. Não tenho alternativa. 
Imagino-te comigo e dou informações erradas ao cérebro. O coração queixa-se em retaliação.
Não sei como te irei encaixar na minha vida, também não acho que quero saber. 
A paz da tua existência é suficiente.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Em fogo



Há um mote.
Há um desejo reprimido, um momento rejeitado. 
Um momento de rejeição.
A ânsia reside na distância e no espaço que vai de mim a ti o tempo não dá tréguas. 
Há uma imagem...há muitas imagens. 
Desejos que viajam como se não existisse espaço.
Sentimentos básicos aparecem sob uma forma primária e a fome de nós é insaciável. 
Alterações de sistema como se houvessem alterações na rede e o cérebro decidisse entrar em colapso com excesso de informação...
Adormecer com o pensamento num lugar mais quente e acordar como se a noite não tivesse passado e o sono não me tivesse premiado. 
E no retorno ao elemento criador do mundo os nossos corpos ficam em fogo enquanto nas nossas almas a chama acende sensações desconhecidas.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Piano

Uma cadência de sons faz o meu sangue reagir a cada nota como se fosse um toque solto... um beijo... 
O coração acelera no vício da repetição.
Sinto um arrepio na espinha e cada centímetro da minha pele a eriçar-se. 
Há um sabor antigo no ar, 400 anos talvez...
No encaixe perfeito de dois pares de lábios há um outro mundo em que o meu olhar é sentido e cada variação da minha respiração é incitada. 
Os teus dedos trespassam e queimam... 
O toque é doce e lento.... 
A emoção é primária e grotesca. 
Esqueço-me de como respirar. Esqueço o controlo. 
Mais uma cadência de notas e não consigo decidir entre arrancar-te do piano ou continuar a ser arrastada na dança das tuas mãos...
Enrosco-me em ti e deixo a minha cabeça descansar no teu ombro. 
Fecho os olhos e o teu cheiro entra em mim... 
Não consigo parar...as notas estão agora ligadas à minha alma. 

Flying

Sinto-me dançar.
Este é um bailado que não termina imerso em sons e sensações constantes de felicidade.
Os meus pés tocam parcamente o chão e toda eu sou salsa, bailado e valsa.
Um rosto vincado por um sorriso constante e um brilho extasiante no olhar: não é só o teu mundo que ganhou cor...
Consigo voar e agora o raio de visão alarga-se até ao infinito... 
Vejo mais longe. Vejo mais além.
Estás no meu mundo não o restringindo... . 
Estranha esta liberdade impressa na minha alma transcendendo cada limitação e dando sentido à minha existência.
Sinto o tempo como vento a correr pelo meu corpo beijado sofregamente pelo calor do sol.
Regozijo na tua presença ausente. 
A vida não acabou. Está apenas a começar.

domingo, 8 de setembro de 2013

Preciso-te

Olho a linha do oceano.

O meu corpo é trespassado pelo frio da manhã... Os meus pés gelam a cada beijo das ondas e marcam a areia virgem nesta vespertina manhã. 
Na minha alma a carência de ti. 
O desejo de um beijo na magia de uma noite encantada, a tua voz profunda a extasiar-me e um olhar que entre o terno e o doce me diz tudo o que preciso. 
O teu corpo comigo. A tua alma na minha.
A saudade é controlável e  passageira... A fome de ti é desespero. 
E cada palavra trocada, cada confissão realizada, cada gesto e cada silêncio foram drogas para um espírito que se perdeu por ti. 
Do outro lado do mundo. Longe da minha mão. 



sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Emptyness

O som de uma mota aproxima-se. 
Pego num isqueiro branco e sorvo um travo no cigarro. 
Notas de um piano multiplicam-se over and over again. 
Na minha boca ainda sinto o sobor da tua... 
No meu peito uma angústia de saber que não estás ao alcance de uma simples mensagem. 
O coração acelera deixando-me ligeiramente confusa quanto à sua inexistência. 
A milhares de km de distância corres atrás de um sonho.... 
O teu, o meu e o de muitos de nós. Orgulho-me e regozijo-me.
No meu mundo privado a minha cama ficou vazia. 
As minhas noites ficam solitárias quando a tua presença era uma certeza. 
A minha mão continua a puxar o telemóvel de 5 em 5 min. 
O sol desce sobre uma Lisboa que para mim está quieta e silenciosa. Parada no tempo talvez. 
E cada minuto multiplica-se por 100 quando sei que não estás ao alcance da minha mão. 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Porto seguro

No fim de tarde os meus pés palmilham o caminho quente que me leva pelo labirinto de Serralves. 
As flores inundam o espaço enquanto o calor do verão se esvai deixando no ar uma brisa seca de início de outono. 
Respiro o ar que me alimenta a alma. Inspiro o doce prazer que este local me traz. 
A hora aproxima-se e com ela a garganta fecha-se e a língua parece feita de papel. 
Ajeito-me vezes sem conta insegura quanto a tudo o que coloquei hoje. O vestido é demasiado longo, o cabelo devia estar apanhado.... 
Sentada num banco em frente ao Palácio as flores caiem das árvores à minha volta num espectáculo incrível deixando no chão de brita uma cama de pétalas coloridas. 
Não consigo estar sentada. Não consigo estar de pé. 
Vejo então um vulto aparecer e desaparecer lá longe entre as árvores e o coração parece querer fugir do meu peito. As mãos começam a vacilar e não sei onde as colocar. 
Um sorriso num tímido cumprimento. As palavras morreram na garganta quando a lista de perguntas na minha cabeça não termina nunca. 
Uma mão toma nela a minha e em gratidão pouso-a no meu peito: quero que sintas o meu coração bater, porque é por ti que ele bate assim. 
As palavras finalmente fluem e cirando à tua volta enquanto trocamos histórias que fazem parte de nós. Sinto-me uma criança em alvoroço. 
O sol ameaça fugir e então corremos à praia para lhe dizer adeus e eu deliro com as últimas ondas do dia. A tua presença é um misto de entusiasmo e sossego. Tudo está ainda por dizer e as horas não têm minutos porque o tempo não tem que existir. Persigo a felicidade quando acompanho o teu olhar fincado no meu a pedir-me para não partir. 
Sou feliz e sei que estás aqui para mim. E ver-te, olhar-te vezes sem conta enche-me a alma e permite-me gravar na memória cada pedaço de ti. 
O sol põe-se contigo deitado no meu colo e os meus dedos a mimarem-te eternamente...
O dia termina com os dois a trautearmos musicas que sabemos de cor, com sorrisos de adolescentes cravados no rosto enquanto desejo que estes momentos durem para sempre. 

* escrito no avião para Reykjavik, sobre o oceano e com um rasgão de sol no pólo norte. A entrar no meu dia de Anos (29). 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sonho

Oiço-me dizer o teu nome... Adorava poder dizê-lo vezes sem conta. Repeti-lo até o desgastar e apoderar-me dele tornando-o só meu. 
Sei que me sentiria pequenina enroscada nos teus braços e no teu corpo gigante e simultaneamente descobriria o sossego e o aconchego que tanto preciso. Sentir-me-ia segura, nunca tendo sabido o que isso significa.
Imagino-te. Far-me-ias quebrar. 
Alma de poeta, tão frágil e trágica quanto a minha que perde horas enviando mensagens aos dedos que criam palavras enleadas umas nas outras. Sentidos escondidos talvez....
A música, uma sensibilidade que nos une, quando mesmo sem sabermos são as mesmas notas que nos fazem vibrar o coração.
O mar é uma paixão voraz. As viagens, o sonho que partilhamos.
A felicidade tem o mesmo nome para nós. Existe exactamente nos mesmos lugares.
País atrás de país vamos vivendo a aventura de conhecer novas culturas, adquirir sabedoria e partilharmos um com outro cada por do sol. Somos cúmplices, somos amantes. Experimentamos cada sensação nova e falamos dela até ao amanhecer. Não existem barreiras, medos, limitações: enquanto estiveres aqui tudo para mim fará sentido...
As janelas de uma pequena casa branca por onde o cheiro do mar entra todos os dias. A serenidade do azul e o som delicioso das ondas.  Leonard Cohen ouve-se pela casa enquanto folhas de papel escrevinhadas dormem em cima de um piano. O saxofone está encostado à janela. Na estante multiplicam-se os clássicos. Num pequeno canto intercalam-se os nossos próprios livros. O gato dorme tranquilo no sofá.
Um pequeno relvado estende-se até à areia onde o cão corre livre e feliz e onde um dia irá habitar um parque para as crianças brincarem. Hei-de ouvir o riso estridente de felicidade deles ao serem amados  como ninguém. 
Um barco ancorado à nossa espera. E nele deslizamos sobre a espuma das ondas e naquele lugar verdadeiramente calmo, embalados pela doce ondulação, deito-me no teu peito e deixo que os teus dedos me mimem as madeixas de cabelo cor de areia enquanto o sol arrebita as sardas empoleiradas no meu nariz. As nossas mãos brincam uma na outra e os nossos lábios repletos de sal amam-se na tranquilidade de não existir mais nada. 
E neste sossego abençoado, pode ser que a esperança de um coração renascer exista e que na nossa curiosidade pelo mundo, o nosso mundo seja apenas um.



domingo, 18 de agosto de 2013

Tarde demais

Há uma dor que me corrompe a alma.
O ar deixou de entrar nos pulmões e a garganta fechou-se com o sangue que pulsava demasiado rápido pelo meu pequenino corpo.
A dor foi da urgência... foi de não te ter dito não. 
Provei o oposto da minha missão.
Mostrei a única coisa que não faz parte de mim. 
Deixei-me consumir pela inconsciência e agora a consciência mata.
Guardar-te-ei na memória de algo que nunca aconteceu. 
Se ouvisses a verdade nunca nela acreditarias ... é tarde demais. 

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Elevador

Odeio elevadores.
Pequenos espaços claustrofóbicos. 
Selados. Perigosos.
Sítios que provocam delírios na minha imaginação tresloucada.
Pequenas prisões que me dão calafrios de medo e excitação. 
Não querer querendo fugir. Dar ao meu lado direito mil razões para sonhar e ao meu lado esquerdo um milhão de preocupações.
(Há um botão que não foi carregado mas ainda assim a porta fechou-se.)
Sentir-me encurralada em algo tão decadente quanto o desejo mais puro. Sentimentos primários, básicos, originais do ser humano. Ser pré-histórica porque a inovação me traz a privacidade e escondida dos olhos do mundo não existo e posso despir da alma todas as contingências da história.
Neste elevador não existem cicatrizes, nem alma, nem coração, nem sentimentos. Sensações apenas que me provocam arrepios ilimitados na pele do meu corpo e uma euforia que me deixa mazelas nos lábios sedentos. Ser animal. Ser fera. 
Ser o que me está na génese e não no pacto com a sociedade. 
Sentir-te finalmente. O meu corpo enrolado no teu e uma força magnética a querer mandar em nós.  
Um elevador abre as portas. A percepção da loucura atenua-se. O corpo pede por mais.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Morte ao coração

Procurei por ele e não encontrei. 
Procurei porque senti uma dor imensa e não encontrava a origem. 
A pele perdeu a cor. 
O sono tornou-se profundo. 
As necessidades desapareceram. 
Mas a dor, aquela dor que me trucida a alma, que bloqueia o ar e que me faz perder o controlo continuava em mim.
Lunática, louca e possuída rasguei o peito, escarafunchei as entranhas, afastei a papa de sangue e os órgãos todos mas o coração tinha desaparecido. 
Fiquei sem saber o que fazer: o meu órgão principal não estava onde devia e tinha deixado o cérebro no comando. 
Quedei-me na ignorância de uma solução enquanto o relógio continuava a tictaquear e o mundo acumulava problemas à volta de um corpo esventrado, ensaguentado, de uns lábios sem cor e expressão e de uns olhos vidrados. 
Boneca de trapos, talvez. 
Mas ensaguentada.
E de repente.. o nada. Tão almejado, tão desejado mas tão mal vindo.
E num suicídio já várias vezes ameaçado finalmente percebi: o meu coração morreu.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Dívida

A liberdade vem sempre com um preço. 
É como fazer um pacto com o diabo: o arrependimento mata. 
Sair de casa para se conhecer o mundo. 
Sentir saudade e querer voltar. Nada restar porém... 
E num momento, num simples momento, olhar em volta e o vazio e o silêncio serem a única coisa que resta... e no lugar que se recorda encantado não restar nada.

domingo, 7 de abril de 2013

Indiferença

Ansiei por um sorriso enquanto o carro deslizava no asfalto. Excesso de velocidade talvez, mas a vontade de chegar tinha mais razões além das óbvias.
O sorriso não chegou. 
Do fundo de uma sala fantástica povoada de amigos vivos e objectos estáticos cumpri a minha função e senti o orgulho.
Ao meu lado um semblante fechado e silencioso. 
Uma falta de relevância da minha pessoa fez-me encolher e sentir pequenina.
Uma falha na minha postura denunciou o que as minhas palavras verbalizaram. 
Posso culpar o sono e o cansaço mas na verdade terei sempre que ser objetiva e não deixar o novelo da minha cabeça dar a justificação que me faria feliz. 
Baixar a guarda num momento puro de medo. Explicar-te o sentido do que muitas vezes pode não ser percebido e ouvir o teu desinteresse numa frase que espelha a tua indiferença: " O que dizes não me causa trauma". 


 

Era uma vez

Era uma vez uma noite de Cinderela.
A alegria consumia os corpos dos que nos rodeavam e mesmo à distância conseguia ter-te comigo. 
Era uma vez um local surreal.
E as pessoas cantaram, sorriram e falaram enquanto o alcool dilatava as veias nos nossos corpos. 
Era uma vez o meu local favorito. 
Entrando e saindo nada aconteceu.
Era uma vez um miradouro mágico.
Alguém gritou que era um local romântico e sentada na pedra fria conseguia estar à altura dos teus olhos. Mas na verdade as palavras que te saiam dos lábios nada tinham de romântico e, apesar de duras, convenho que foram bem vindas.
Era uma vez uma irritação fingida. 
E dedos malandros acariciaram a minha mão num pedido de desculpas dissimulado.
Era uma vez uma despedida arrastada.
E o cumprimento que foi dado foi apenas uma expressão física de uma alma que dizia "fica comigo" .

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Serendipity

Interrogo-me... 

Porque é que as palavras nunca se esgotam? 
Pensar no motivo pelo qual tudo flui e a alegria me consome. 
Histórias atrás de pensamentos. 
Traços de personalidade atrás de teorizações.
Tudo na minha noite foi paz e serenidade. Tudo foi um conforto imenso.
Senti um único mimo, um único toque....mas raios soube-me pela vida.
Querer prolongar sempre mais um segundo e o sono e o cansaço a mandarem-me abaixo.
Não queria ter saído debaixo dos teus olhos. Não queria que o teu cheiro se tivesse dissipado à medida que me afastava para cumprir a dolorosa tarefa de te deixar sem saber quando me cruzarei contigo outra vez. 
E na minha cara um formigueiro no rasto da tua mão.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Tempestade

Notas soltas inundam-me e sinto um aperto brutal. 
Novelos e gavetas vazias, risos e jogos de força. 
A chuva que nem por nada nos larga e insiste em marcar presença. 

A média luz a esconder a cor dos teus olhos e confidências enroladas em segredos que não queria partilhar. Mas tu vergaste-me. Tu ou essa capacidade de me fazeres sentir tão bem.A escuridão reconfortou-me e uma paz electrizante deixou-me ser mulher. 

Um raio que parece cair a meio metro de nós e perceber que até a natureza entende o que se passa no espaço vazio que fica entre mim e ti. 
Parar não foi mais que querer roubar tempo ao tempo. 
A teimosia não foi mais que deliciar-me a ver uns olhos a fecharem-se num nano-segundo no meio de uma ruidosa tempestade.  E o novelo tomou conta de mim quando agradeci o cinto a bloquear-me o movimento e a impedir-me de destruir uma comemoração quase perfeita quando tudo me puxava para ti.
Os relâmpagos rasgaram os céus num fogo de artifício privado. A brutalidade emocionante da natureza decidiu tomar conta da festa.
E por mais novelos e interligações, há coisas que são invisíveis aos olhos...

domingo, 31 de março de 2013

Dirty dancing

As expectativas não eram nenhumas...ou melhor, oscilavam entre o 0 e -1. 
Decidi que ia: quanto muito iria ficar a rir-me a a deixar o álcool invadir o meu sangue. Decidi ir porque se não fosse,  seria mais uma noite de sábado perdida e roubada à minha juventude.
O que se seguiu foi impossível de descrever...
A música puxava pelo meu corpo mas eu não sei dançar. 

Batidas quentes e na pista parecia que os corpos se fundiam visualmente enquanto do meu canto eu apreciava a magia. 
Uma mão agarra a minha e leva-me dali... 
"Eu não sei dançar", "não faz mal, anda eu ensino-te". Em passos rijos e movimentos presos uma música passa e termina comigo a trocar os pés a cada 15 segundos.
Uma nova mão estende-se e leva-me para dançar " Eu não sei dançar", " eu ensino-te". 

E entre a explicação monitorizada de dois passos para um lado e um passo para o outro e duas mãos a violentarem as minhas costelas e a fincarem-se nas minhas ancas, lá me mexi descompassadamente. 
"Não partas a rapariga" e uma mão resgata-me deste movimento mecanizado e bruto.
"Eu não sei dançar", " Deixa-te ir.." e eu deixei...
Deixei que um corpo encaixasse no meu, que os meus pés seguissem o som da música que parecia agora entrar directamente na minha alma. Deixei as mãos serem apoio e senti cada pedaço de movimento de olhos bem fechados. As minhas mãos a tocarem o pescoço e o cabelo e a vontade de o agarrar enquanto o meu peito se colava noutro e a respiração entrou em red line. Dois corpos molhados e gotas de suor a saltarem e a escorregarem para o meu peito e a esconderem-se entre os meus seios. Um par de mãos a fazer-me rodopiar em movimentos que eu só tinha visto em filmes e uma anca contra a minha numa movimentação compassada e sensual. O corpo a sentir a alma e pequenos minutos a fazerem com que a relação espaço-tempo se extinguisse no buraco negro que foi uma percepção de lúxuria e erotismo.

A música a mesclar sentidos e a entorpecer a minha existência. 
Com o corpo certo eu sei dançar.

terça-feira, 19 de março de 2013

Racionalidade

Odeio a racionalidade. 
Talvez por ser tão dependente dela e lhe conceder tanto crédito. 
Odeio-a!
Não quero ter que tomar decisões com base nela. 
Não quero fazer as coisas porque preciso! e nesta necessidade reside a chamada e amiga racionalidade!
Quero fazer o que quero. 
Quero poder querer. 
Quero poder querer ter querido. 
Raios!
Toda a estratégia inerente a anos de análises precisas e implacáveis, a planeamentos meticulosos e estruturados, a deixas pensadas e palavras manipuladas são lixo para mim. 
Abri os olhos para a minha ingenuidade atabalhoada e sou mais que um complexo de jogos intercalados e imprevisíveis.
Quero ser eu.

domingo, 3 de março de 2013

Palco

Retiro-me de cena de mansinho. 
Os atores em palco a contracenar. O mundo a continuar a sorver a peça que nunca termina.
Espectadores na plateia. Personagens no palco. 
Subtilmente afasto-me para o limite da visão do público. Estaco no momento em que tenho que decidir sair ou continuar.
Um limbo. 
Não consigo escolher de que lado serei mais feliz. 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Valsa

Uma sensação de demência profunda finca-se na pele e perco o sentido da relação espaço-tempo. 
O meu cérebro em sangue de esgotamento, a alma em cacos e irremediavelmente quebrada, o coração em cinzas já pisadas e amolecidas.  
O vício assola-me  numa monotonia estável e repetitiva. 
De algum modo sinto-me segura na prisão das notas que prevejo chegar.
De algum modo o chão que piso na minha cabeça enquanto deslizo encantada faz-me sentir genuína. 
Perdi-me em algum momento do tempo. Não sei onde fiquei, onde estou e para onde vou.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Risco

Dois olhares cruzam-se na casualidade de um café. Uma. Duas. Três vezes.
Uma decisão de não partir sem luta e sem risco. 
Hei-de encontrar uma forma de passar a bola para o teu lado.
Um papel largado no vento e confundido com cinza. Uma cara assustada. A loucura a passar-me em frente do olhar. 
Não saber o que aconteceu e apenas ter a certeza que foi arriscado. 
Um risco atrás de outro. 
Os dedos a deslizarem pelas teclas e pedaços soltos de informação a circularem... errado? Provavelmente.
Risco sem cálculo ou intenções que fosse e um cigarro no gelo da noite. 
E como se não chegasse a epifania das loucuras num copo com um pedaço de alcool a aquecer-me o corpo e um par de horas de conversa a alimentar-me a alma... unilateral, embora. Julgo que por vezes me esqueço de quanta informação posso soltar quando a intenção inicial se prende com triggers muito mais complexos.
Dei-te um pouco de algo esta noite. Tu, deste-me uma história.