domingo, 3 de novembro de 2019

Palavra

Escrevo-te. Não para ti mas a ti.
Não és mais que uma versão gerada a partir de imagens que fui criando das palavras que circulam entre mim e ti. Existindo não me existes.
A semi-rouquidão da tua voz ecoa-me numa memória que se torna antiga. Uma articulação perfeita com toques subliminares de ironia força-me a rewinds constantes: já não no tijolo mas na memória.
A curiosidade foi imediata. A vontade de saber se a tua tridimensionalidade é real cresceu desde então. Percebi-te a rigidez e a armadura desde o primeiro momento enquanto dizia a mim própria que não valia a pena...
Fui tentada. Não por ti mas por outros que me apareciam. Foste o meu “her” e a satisfação de intermitentes momentos de comunicação contigo largamente mais satisfatória que noites que rapidamente seriam obliviadas da memória.
“Não queres jogar esse jogo comigo. Acredita.” Mas os meus olhos encantaram-te e ao ver-te desarmado não consegui conter-me “encontrei a tua fraqueza, não posso para agora”. O meu jogo virou-se do avesso quando, também tu, encontraste a minha fraqueza: não nos sabia tão iguais.
Um reboliço de estímulos assomou-me noite e dia: a cada momento de sossego a minha imaginação era puxada para um quarto onde o sol entra sem pedir licença e inunda uma cama alva como arminho onde sei que vamos acabar. Por entre jogos do toca e foge a tensão aumenta e sou enclausurada por ti quando me beijas com a intensidade de um furacão que me provoca arrepios na pele esbranquiçada. Numa luta por poder e sem fim à vista, as palavras vão trocando de vez com momentos de possessão absoluta. Consigo, por breves instantes, dominar-te sentando-me em cima de ti para que no momento seguinte as minhas mãos estejam imobilizaras atrás das costas expondo à tua boca os seios que pedem por ela. Sinto a tua erecção entre as minhas pernas que anunciam, pelo calor e humidade, que estou mais qua pronta para te receber. “Não ainda, não já... quero mais das tuas mãos no meu corpo”. O frenesim torna-se lento demais e começo a tremer. Perdi-me. Já estou fora de mim. Neste momento não há regas, não há limites. Sinto o meu vestido desaparecer e a tua roupa também. Os nossos peitos colados respiram sofregamente e descompassados e a luxúria toma conta de nós. Sinto a tua língua deslizar para dentro de mim e um gemido solta-se da garganta. Demoras-te enquanto bebes de mim e nenhuma droga me provocaria todas as sensações que me trespassam. “Quero sentir-te” e sem pré- aviso as posições invertem-se para que me deixes beijar-te o peito e os meus dentes cravarem-se na carne macia a caminho de um membro pulsante que abocanho sem pudor. Perco-me por tempo indeterminado querendo, sem dúvida, tudo ao mesmo tempo. Retomas o controlo e de costas para ti sinto o latejar do desejo encostado ao meu rabo enquanto uma mão me agarra o pescoço puxando-me para ti e a outra desce entre as minhas coxas que se mexem contra ela. Por fim, quando o desejo já se tornou dor, deslizas para dentro de mim e sentes um calor inimaginável enquanto, forte e compassadamente nos levas ao êxtase. Caímos sobre os lençóis e vemos o sol pela primeira vez. Contigo ainda dentro de mim e o teu peso sobre o meu corpo,  a tua mão decide deslizar por baixo da minha barriga e fazer o prazer perdurar um pouco mais... só um pouco mais.
Enrolo-me em ti e histórias passam pelo pouco espaço entre nós. O sol já entrou a fundo no quarto e aquece-nos agora tal como nós aquecemos uma e outra vez....
“Volta. Estás a sonhar acordada.”

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